domingo, 20 de março de 2011

O COLECIONADOR DE CRUCIFIXOS



SEQ 01 – INT – QUARTO – NOITE

TOMAS está no quarto, limpando um crucifixo nas mãos. Ele termina de limpar, o admira na mão por um breve tempo, e depois o coloca na parede. Câmera abre, mostrando vários outros crucifixos ao redor de sua parede. TOMAS fica olhando para sua coleção, sorrindo. Ele pára o olhar em um específico.

AVÓ (VOZ OFF):
Quando este bolo estiver pronto, vai ficar uma delícia.


INSERT 1 – INT – COZINHA – DIA

TOMAS criança e AVÓ estão na cozinha. Ela preparando um bolo, ele olhando pra ela, feliz. Ela olha pra ele, e sorri. Enquanto AVÓ fica mexendo a massa do bolo, TOMAS fica olhando pro crucifixo pendurado no pescoço dela.


INSERT 2 – EXT – CEMITÉRIO – DIA

As pessoas estão velando a AVÓ. O AVÔ de TOMAS chora muito, com o crucifixo apertado na mão. TOMAS observa curioso. Seu AVÔ desvia o olhar do caixão, e olha pra TOMAS. Se aproxima do neto, lhe entregando o crucifixo.

AVÔ:
Tome, Tomas. Guarde com carinho, era da Vó Teresa que nós tanto amávamos.


SEQ 02 – INT – QUARTO – NOITE

TOMAS termina de admirar a cruz, e está pra pegar outra, quando toca o celular. Ele olha no visor, que mostra o nome GUSTAVO. Ele atende.

TOMAS:
Fala, Gustavo!

GUSTAVO (com voz chorosa):
Oi, Tomas... Eu estava pensando... Sabe, hoje seria meu aniversário de namoro com a Marcela... Você poderia me acompanhar até o cemitério...? Quero visitar o túmulo dela...

TOMAS:
Claro, cara. Amigos são pra essas coisas. Pode contar comigo. A que horas você quer estar lá?


SEQ 03 – EXT – CEMITÉRIO – DIA

TOMAS e GUSTAVO entram no cemitério, e vão até o túmulo da namorada de GUSTAVO. Os dois ficam parados por um tempo, olhando para o túmulo. GUSTAVO tenta se manter firme, mas acaba não segurando, e começa a chorar. TOMAS fica parado, em silêncio, só olhando. GUSTAVO se abaixa, coloca flores no túmulo, e em seguida, tira do bolso uma foto dele com a namorada. Ele coloca a foto sobre o túmulo. E fica observando, chorando. TOMAS, constrangido se afasta, um pouco triste, e caminha entre os outros túmulos ao redor. Seu olhar pára em frente a um crucifixo em um túmulo. Ele se posiciona pra observar melhor. Ele fica como que paralisado, olhando pra cruz, e alisando-a. Corte para GUSTAVO, que continua agachado em frete ao túmulo da namorada, como se rezasse. TOMAS se aproxima, arrumando a blusa (ele está escondendo o crucifixo). Ele volta pra perto de GUSTAVO, com as mãos nos bolsos. Ele se aproxima de GUSTAVO, se abaixa, coloca um braço sobre o ombro do amigo, que se levanta.

TOMAS:
Vamos indo?

GUSTAVO não responde, mas balança a cabeça, afirmando, enquanto se levanta. Os dois saem do cemitério.


SEQ 04 – EXT – EXTERIOR DO CEMITÉRIO – DIA

TOMAS e GUSTAVO estão saindo do cemitério. Gustavo não chora mais. TOMAS pergunta, inocentemente.

TOMAS:
Sabe, Gustavo. Esse cemitério é bem bonito. E tem umas cruzes bem lindas em alguns túmulos. Eu vi um crucifixo mais ou menos deste tamanho...

TOMAS faz o tamanho com as mãos.

TOMAS:
...que me deu até vontade de pegar pra mim. Será que alguém se importaria se eu pegasse?

GUSTAVO olha pra TOMAS, reprovador.

GUSTAVO:
Nem por brincadeira você deve pensar uma coisa dessas. Os objetos dos cemitérios são sagrados! Eles são presentes dos familiares e amigos dos mortos. Não é uma boa idéia roubá-lo, porque você vai estar roubando algo dos mortos.

TOMAS:
Calma, cara. Não to falando sério. Eu nuca roubei cruz nenhuma. Todas as da minha coleção foram ganhadas.

TOMAS e Gustavo seguem caminhando pra longe da câmera.


SEQ 05 – INT – QUARTO – NOITE

TOMAS entra no quarto. Ele abre sua blusa, e tira o crucifixo roubado de dentro de um bolso. Ele se senta na cama, com a cruz na mão, e fica admirando por um tempo. Em seguida, ele pega uma lenço, e começa a limpa-lo. Ele sorri, e o coloca na parede, num lugar especial entre sua coleção. Depois de terminar de limpar a coleção, ele se prepara pra dormir. Um VULTO passa pela janela.TOMAS se assusta, e vai até a janela pra ver o que era. Não tem nada lá. Ele volta pra cama, se deita e dorme.


SEQ 06 - INT – QUARTO – NOITE

TOMAS está deitado na cama, se virando de uma lado pro outro, sem conseguir dormir. Enquanto se vira, ele eventualmente olha pra cruz na parede. Flashes na cruz, indicando que TOMAS está pegando no sono.

SEQ 07 – INT – QUARTO – DIA (PESADELO)

TOMAS está em um lugar sozinho, na sua frente, uma pessoa que parece uma mulher está amarrada em uma cadeira, se debatendo de um lado para outro. Quando TOMAS se aproxima um pouco dela, ela vira o rosto na direção dele. Ela pára, olha para TOMAS e grita:

MULHER:
É minha! Me pertence ! Devolva-me!

TOMAS, assustado, dá um grito.



SEQ 08 – INT – QUARTO – NOITE

TOMAS acorda, gritando. Ele olha pra janela, e vê uma chuva forte caindo. Quando um relâmpago ilumina um pouco o quarto, ele vê que seu crucifixo roubado está de ponta cabeça na parede. Ele se levanta, e vai arruma-lo. Depois volta pra cama, e fica uns momentos observando o crucifixo. PD no relógio, mostrando as horas.


SEQ 09 – INT – QUARTO – DIA

PD no relógio, mostrando as horas. TOMAS acorda, olha as horas, e se levanta correndo.

TOMAS:
Ô, bosta!


SEQ 10 – INT – TREM – DIA

TOMAS corre pela bilheteria da estação, passa pela catraca, apressado, quase atropelando as pessoas pelo caminho. Ele entra correndo no trem, quando as portas estão quase pra se fechar. Ele se senta, e fica mexendo as pernas, impaciente, olha pro relógio a todo o momento. Ele observa um passageiro, que tem um crucifixo bem parecido com o que ele roubou no cemitério pendurado no pescoço.


SEQ 11 – INT – TRABALHO – DIA

PD em um relógio na firma, quando TOMAS chega. Ele entra, e vai direto pro computador, fazer seus relatórios. Mas assim que lê se senta, outro funcionário se aproxima dele.

FUNCIONÁRIO:
Tomas, o Senhor Mendes quer te ver na sala dele.

TOMAS:
Ô droga...


SEQ 12 – INT – SALA DO SR MENDES – DIA

TOMAS está sentado, em frente ao SR MENDES. O SR.MENDES olha severo pra TOMAS. Ele usa um crucifixo no pescoço. TOMAS mexe nas mãos, tentando parecer calmo. O SR. MENDES apresenta a carta de demissão pra TOMAS.

SEQ 13 – INT – TRABALHO – DIA

TOMAS sai da sala do SR.MENDES, vai até sua mesa, pega suas coisas, depois vai até o armário, pega o resto de seus pertences, e vai embora. Os outros funcionários o olham ir, mas ninguém fala nada.


SEQ 14 – INT – QUARTO – NOITE

TOMAS está deitado na cama, olhando pro crucifixo roubado, quando ADRIANA, sua irmã, entra no quarto.


ADRIANA:
Escuta... O que você estava fazendo em casa hoje à tarde?

TOMAS:
À tarde? Eu nem estava em casa à tarde. Só cheguei depois da 7 horas...

ADRIANA:
Eu ouvi uns barulhos estranhos, parecia um gato, ou sei lá o que arranhando a janela. Você precisa ver isso. Vai que tem algum rato no seu quarto.
TOMAS se vira pro lado, tentando ignorar ela.

TOMAS:
Ta, amanhã, eu vejo isso.


ADRIANA começa a sair do quarto, fechando a porta. Ela pára um momento, e volta para TOMAS.



ADRIANA:
Ah, sim. Uma moça te ligou hoje. Ela não quis deixar recado, mas disse que precisa falar com você, e que é importante.


TOMAS se vira de volta pra irmã.

TOMAS:
Moça? Quem era?

ADRIANA;
Sei lá. Ela não disse o nome. Só falou que precisa muito falar com você. Antes de eu perguntar quem era, desligou.


ADRIANA sai do quarto. TOMAS fica pensando sozinho. Ele olha pro crucifixo roubado.

SEQ 15 – INT – BAR – DIA

TOMAS está jogando bilhar com os amigos. TOMAS repara que tem uma garota olhando pra ele. A cada tacada, ele pára pra olhar pra ela. Ela está sozinha, mas perto da mesa de uns amigos dele. TOMAS vai até os amigos, cumprimenta-os, depois se aproxima dela.

TOMAS:
Você eu não conheço, mas muito prazer.

HELENA:
Olá! Meu nome é Helena.


Os dois ficam conversando por um tempo.


HELENA
Eu moro num lugar muito longe daqui. Só estou aqui a passeio, na casa de meus avós.

TOMAS
É Mesmo? E você gosta de bilhar?

HELENA
Gosto, sim.

TOMAS
Então, vamos jogar? Que tal uma parceria?

HELENA
Pode ser interessante.


Os dois se levantam.


TOMAS:
E aí, Lexy, seu ruinzão! Vamos jogar em dupla? Nós dois aqui contra vocês?

LEXY:
OK. Vou te mostrar quem é o ruinzão aqui.


Eles começam a jogar. TOMAS e HELENA se entrosam durante o jogo, ficando bem amigos. Eles ganham a partida. Ele comemora abraçando ela.
SEQ 16 – EXT – RUA – NOITE

TOMAS e HELENA estão andando, enquanto conversam. Eles param próximo a um “escadão”, e sentam-se pra conversar. Tomas fica Olhando-a no rosto firmemente.

TOMAS:
Sabe,Você tem olhos lindos. Eles parecem ter uma certa tristeza, mas que te deixa muito sexy.


HELENA vira o rosto, escondendo o rosto com os cabelos.

TOMAS:
Desculpe. Falei algo errado?

HELENA:
Não, é que... Eu não costumo conhecer muitas pessoas.

TOMAS:
Sei. Você é do tipo solitária. Eu também sou assim.

HELENA:
Mas você tem amigos.

TOMAS:
Poucos... Um ou outro cara... Uma amiga de um amigo... Mas no fundo, eu me sinto meio à parte deles, às vezes. Sabe como é, né? Mesmo no meio de uma multidão, nos sentimos sozinhos.

HELENA:
Você não sabe o que a solidão verdadeira. Um estado de total esquecimento, um...


HELENA pára bruscamente de falar, baixando o olhar. TOMAS segura delicadamente seu queixo, aproximando seu rosto do dela pra beija-la, e ela corresponde. Então, ele acaricia seu rosto e toca seus lábios, beijando-a. Depois do beijo, ela se afasta dele.

HELENA:
Eu preciso ir embora, pois meus avós poderiam estar preocupados, e ela estava na casa deles devidos aos estudos.

TOMAS:
Eu te levo embora, se você quiser;

HELENA:
Não, obrigada. Meus avós podem não gostar. Eu estou aqui por causa dos estudos, não pra namorar.

TOMAS:
Tudo bem, mas eu posso te acompanhar até lá, pra você não andar sozinha pelas ruas.

HELENA:
Tudo bem. Eles moram aqui perto. Posso ir sozinha. Mas agradeço a oferta.

TOMAS:
Certo. Mas poso te ligar? Me dá seu número.

O celular de TOMAS toca. Ele atende, o visor mostra que é de sua casa. Quando ele se vira, HELENA já sumiu. Ele olha ao redor, enquanto o celular toca. Ele então, atende, procurando ao redor por HELENA. No telefone, ADRIANA, apavorada.

ADRIANA:
Tomas! Tomas, cadê você? Por que você não está em casa? Eu to te procurando, Tomas...

TOMAS:
Adriana? O que aconteceu? Tem alguma coisa errada por aí? Adriana?

ADRIANA:
Tomas? É você?

A ligação cai. Tomas sai correndo.


SEQ 17 – INT – SALA DE CASA – NOITE

TOMAS entra em casa com pressa e assustado. Ele chama pela irmã. Ele olha ao redor da sala. A luz está apagada, a sala só está iluminada pela luz da tela da TV, que estava ligada, ADRIANA estava em frente da TV, com os olhos fixados na imagem, e com o crucifixo roubado nas mãos. TOMAS se aproxima dela, a chama, mas ela continua firma olhando pra TV. Ele olha pra tela da T.V, e se espanta com as imagens que vê. Ele desliga a TV, e acende as luzes, e volta pra perto da irmã. Ele toma a cruz das mãos dela, e a chama novamente. ADRIANA olha pra ele com se tivesse acabado de acordar.


ADRIANA:
Tomas...Que bom que você está aqui.

Ela o abraça.

TOMAS:
O que foi que aconteceu?

ADRIANA:
Oh, Tomas! Foi horrível! Horrível demais!

TOMAS:
Me conta. Se acalma, e me conta o que aconteceu.

ADRIANA:
Eu... Eu não entendo...


INSERT - SONHO DA IRMÃ

ADRIANA conta o que aconteceu. Enquanto as imagens são mostradas, sua voz narra os fatos em off.

ADRIANA (em off):
Eu me deitei para descansar.


ADRIANA abre os olhos.

ADRIANA (em off):
No meio da noite ouvi alguém chamar pelo meu nome.


Ela se levanta da cama, e caminha pelo corredor.


ADRIANA (em off):
Então vi meu corpo sair da cama daí segui até onde estava a voz, temendo ver alguém. Tudo estava escuro, mesmo assim dava pra ver tudo.


ADRIANA vai até a sala.

ADRIANA (em off):
A voz me chamava até a sala, fui até lá com muito medo.


ADRIANA entra na sala, que está escura. Ela olha ao redor, procurando.

ADRIANA (em off):
Quando cheguei até a sala, fiquei parada em pé, estava com muito medo, não conseguia ver nada e ninguém. Então outra vez essa voz sinistra me chamou.


ADRIANA mexe os lábios, falando, mas não tem som, a voz dela vem da narração em off.

ADRIANA (em off):
Então tentei conversar: “Quem é você? O que quer?”.


ADRIANA fica ouvindo a VOZ. A VOZ está respondendo, mas é a voz dela em off que é ouvida, recitando o que a voz falou no pesadelo.

ADRIANA (em off):
“Não importa quem sou, importa o que vim fazer. E vim até aqui pra te avisar que tem gente do outro lado querendo falar com você. Ouça-os!”.


ADRIANA começa a andar pra trás, apavorada.

ADRIANA (em off):
Fiquei apavorada, anestesiada de medo.

ADRIANA começa a falar para as paredes.
ADRIANA (em off):
“Estou com medo! Por favor, não me façam nada! Tenho medo!”. Mas a voz continuou a responder: “Não tenhas medo. Ouça e ai sim saberá o que fazer”.

ADRIANA anda até o meio da sala, quando a TV se liga, e aparecem imagens estranhas.

ADRIANA (em off):
Então andei até o meio da sala e tentei sentir a presença de alguém, quando a T.V ligou sozinha e apareceram imagens estranhas e vozes gritando e chorando dentro da TV.


As imagens na TV tomam conta da tela. Nessa hora, pode-se ouvir as vozes vindo direto dessas imagens, ao invés da narração em off.

VOZES NA TV:
Nos ajude! Nos ajude, por favor! Devolva o que me pertence! Devolva o que nos pertence! Devolva o que não lhe pertence! Quero sangue! Queremos sangue! Sangue! Devolva! Está nessa casa, eu posso sentir! Podemos sentir! Devolva! Não é seu! Queremos de volta!
ADRIANA (em off):
Então perguntei: “Mas o que vocês querem? Tenho medo, não vou agüentar isso por muito tempo!”. E a voz me repreendeu: “Ouça! Depois veremos o que é!”.


ADRIANA então, olha pra TV, e fala.

ADRIANA (em off);
Não sei o que querem, me dê um sinal, uma pista para eu tentar fazer o que querem.


As imagens na TV se calam, e todas as portas e gavetas do móvel que sustentava a TV se abrem, em seguida a TV desliga sozinha.

ADRIANA (em off):
Então tive a impressão de acordar de um sonho no meio da sala, então abri a primeira gaveta e tomei um choque.


ADRIANA vai até a gaveta. Um CLOSE nela, se assustando ao ver o crucifixo roubado lá dentro. PD no crucifixo, na visão dela. A TV liga sozinha de novo e começam as vozes de novo.

ADRIANA (em off):
Então você chegou.

VOLTA PRA CENA

ADRIANA aperta o corpo do irmão, chorando.

ADRIANA:
O que significa tudo isso, Tomas? O quê? Eu tô com muito medo.


TOMAS Abraça forte a irmã. Mas ela se solta, e olha firme pra ele, entendendo o que aconteceu.

ADRIANA:
É o crucifixo, Tomas. É esta cruz. Você precisa devolver pro dono. É isso. Se você não devolver...(voz chorosa) Oh, Tomas...

Ela começa a chorar novamente, e o abraça. TOMAS segura ela, enquanto, com a mão livre, segura a cruz. Olha pra cruz na mão, e a aperta.


SEQ 18 – INT – QUARTO DE ADRIANA – NOITE

TOMAS observa ADRIANA dormindo, depois, ele sai do quarto dela, e vai até o seu quarto.

SEQ 19 – INT – QUARTO DE TOMAS – NOITE

Ele se deita, olhando pro crucifixo roubado na parede. Ele dorme. Ele começa a ter pesadelos.

INSERT – PESADELO DE TOMAS

Primeiro, a TV se liga, mostrando as imagens estranhas. AS pessoas pedindo sangue. Depois aparece HELENA, no quarto. Pálida, com um olhar triste, sobre uma luz vermelha, quase não dá pra vê-la, pois ela está mal iluminada. Ela vai falando. TOMAS olha na direção dela. Ele se levanta, e vai na direção dela, em passos lentos.

HELENA (em off):
A televisão fala, cheia de olhos. Os espíritos da visão. E agora, estou com tanto medo. Eu estou vendo coisas. Eu estou ouvindo coisas. Eu não sei quem sou.


O rosto dela vai se iluminando aos poucos, enquanto ele se aproxima. Ela levanta a cabeça, tossindo. De sua boca sai sangue. Ela olha pra TOMAS.

HELENA:
Você me ama?


TOMAS balança a cabeça, afirmando.

HELENA:
Então, me dê um nome. Eu preciso de um nome, pra me tornar amada. Sem nome, eu serei um vazio eterno. Eu serei o nada. Entropia. Não deixe isso me matar. Isso vai me matar e me esmagar. E me mandar para o inferno! Me dê um nome!

TOMAS:
Helena! Helena! Seu nome é Helena! Eu te amo, Helena!

HELENA:
Você vai ter sempre um pedaço de mim, porque você teve minha vida em suas mãos!


Então HELENA se levanta e corre, TOMAS vai atrás. Eles correm por uma espécie de galpão, onde, no meio da sala, tem uma criado mudo, com a gaveta aberta. TOMAS se aproxima, olha dentro da gaveta. O crucifixo roubado está lá dentro. Nessa hora, uma voz fala em off.

VOZ:
“Me devolva!”.


TOMAS olha para os lados, mas não vê ninguém. Ele se aproxima mais da gaveta, e quando vai pegar o crucifixo, uma mão sai de lá de dentro e agarra a mão de TOMAS, que grita de pavor.


SEQ 20 – INT – QUARTO – DIA

TOMAS acorda, gritando, e suando. Ele se levanta, assustado, e olha ao redor, com a respiração apressada. O celular está tocando. Normalizando a respiração, ele pega o celular, e olha no visor, onde está marcado o nome HELENA. Ele atende.

TOMAS:
Alô?

HELENA:
Alô! Surpreso em receber minha ligação?

TOMAS:
Hã... Sim, estou. Mas é uma surpresa bem agradável.


TOMAS se deita na cama, calmo. Ele sorri.

TOMAS:
Mas estou surpreso, sim.

HELENA:
Eu peguei seu celular quando nos conhecemos, e anotei seu número. Você nem viu.

TOMAS:
Você é bem rápida, hein?
HELENA apenas ri.

HELENA:
Sabe, estou com saudades de você. Quero muito te ver. Podemos nos ver hoje, tipo, às 3 horas da tarde?

TOMAS:
Claro. Onde você gostaria de ir?

HELENA:
Me pega em casa, que depois a gente decide. Anote meu endereço.


TOMAS se levanta, e pega uma caneta e papel na cômoda.

TOMAS:
Pode falar.


SEQ 21 – INT – COZINHA – DIA

TOMAS está lavando o prato, quando ADRIANA entra na cozinha.

TOMAS:
Oi. Está melhor?

ADRIANA:
Sim. Agora que você deu um fim naquele crucifixo, me sinto bem melhor.

TOMAS:
Como assim? Eu nem mexi nele.



ADRIANA:
Eu acabei de entrar no seu quarto, ele não está lá.

TOMAS sai correndo, e vai pro quarto.


SEQ 22 – INT – QUARTO – DIA

TOMAS entra correndo no quarto, e olha na pra parede, pra sua coleção. O crucifixo roubado não está mais lá. Ele pára com a mão na cabeça, olhando ao redor do quarto.
TOMAS:
Ô, Caralho!


TOMAS olha pro relógio, e vê que são 2 horas.

TOMAS:
Ih, porra!


Ele pega uma blusa, e sai correndo do quarto.


SEQ 23 – INT – ÔNIBUS – DIA

TOMAS fala com o cobrador do ônibus pra avisar quando chegar perto do endereço de HELENA.


SEQ 24 – EXT – RUA – DIA

TOMAS desce do ônibus, olhando as placas das ruas, e com o papel com o endereço na mão. Ele acha a placa com o nome da rua, e o número indicado no papel. É o cemitério onde ele roubou o crucifixo. TOMAS entra.


SEQ 25 – INT – CEMITÉRIO – DIA

TOMAS caminha pelos túmulos. Ele vai até o túmulo da namorada de GUSTAVO. Ele continua andando, até passar pelo túmulo onde havia roubado o crucifixo, e se espanta. No túmulo, o crucifixo roubado estava de volta. Ele se aproxima, pra ver o crucifixo mais de perto. Ele passa a mão na cruz, espantado.

TOMAS:
Não pode ser...


TOMAS olha pra foto com o nome da pessoa enterrada, e se assusta. Ele se afasta, apavorado, depois se aproxima novamente. A foto e o nome são de HELENA. PD na placa com a foto e nome da falecida, onde se lê: HELENA FERNANDA TIOSSI 20-02-1980 26-05-2005. TOMAS baixa o olhar. Sussurra:

TOMAS (sussurrando):
Meus pêsames.


PD na placa no túmulo.


SEQ 26 – INT – CEMITÉRIO – DIA

TOMAS fica sentado no túmulo de HELENA, olhando o pôr do Sol.


Escurecimento.
Créditos finais.

quinta-feira, 3 de março de 2011

CARREGADORES

Mais um roteiro que eu adoraria filmar.
Alguém se habilita?


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SEQ 1 - EXT – FEIRA-LIVRE – DIA

Imagens de pessoas fazendo compras, colocando as compras nos carrinhos; puxando os carrinhos; e meninos se aproximando pedindo pra carregar os carrinhos. Algum, as pessoas negam, outras aceitam. Meninos levando os carrinhos.


SEQ 2 – EXT – FEIRA-LIVRE – DIA

ZOINHO está levando o carrinho de uma MULHER até seu carro. A MULHER abre o porta-malas do carro, e os dois colocam as compras dentro. Quando terminam e guardar as coisas, a MULHER põe a mão no bolso, tira algumas moedas, e dá pra ZOINHO. Ele agradece, e vai pra junto de ÉBANO, e GORDURA.


ÉBANO:
E aí, Zoinho! Ela deu quanto?

ZOINHO:
Só uns trocadinhos. Véia pão dura!

GORDURA:
Tem gente que é foda! Nem pra dar o suficiente pra comprar pastel.

ÉBANO:
São esses mauricinhos. Eles são uns mão-de-vaca! Os mais simples dão mais trocado, porque sabe como a gente sofre.

GORDURA:
Tem que carregar carrinho das velhinhas. Elas sim que são legal. Sempre dão bastante dinheiro. As veiz, elas até dão algum doce, ou bolo.

ZOINHO:
Podi crê! Uma vez, eu ganhei um pedação de bolo enorme! Desse tamanho!


Ele faz o gesto do tamanho do bolo com as mãos


ÉBANO:
É, mas tem que tomar cuidado! Lembra do touquinha?

ZOINHO:
Quê que tem ele?

ÉBANO:
Ele foi carregar o carrinho de uma velhinha, e nunca mais voltou!


GORDURA:
Ah, se liga!

ÉBANO:
É verdade, eu juro! Você viu ele depois daquele dia?

ZOINHO:
Isso é história. Ele deve ter ido pra uma feira de outro lugar. Ou fazer malabares no farol. Dizem que dá mais dinheiro...

ÉBANO:
Duvido!

GORDURA:
E o que você acha que aconteceu com ele?

ÉBANO:
Eu...

ZOINHO:
(interrompendo)
Olha lá uma velhinha, Gordura! É a sua vez de carregar!


SEQ 3 – EXT – FEIRA-LIVRE – DIA

A VELHA está carregando seu carrinho, aparentando cansaço. GORDURA se aproxima dela.

GORDURA:
Posso carregar pra senhora?

VELHA:
Claro, claro! Carrega! Aqui, pega!

A VELHA passa o carrinho pro GORDURA, que o puxa, acompanhando a VELHA. O dois vão até a casa da VELHA. Ela fala durante todo o caminho.


VELHA:
Brigada, menino! Você é um menino forte, carregando meu carrinho! Quando chegar em casa, vou te dar uma surpresa especial! Você é bem forte! Tem músculos fortes! Deve ter muitas proteínas! Eu sempre deixo um menino carregar me carrinho. Eu gosto de meninos, são tão bonzinhos, eu gosto de meninos bonzinhos, sabe?

GORDURA:
Brigado.

VELHA:
A minha casa é logo ali. Você não tá cansado, né? Você é um menino forte! Eu gosto de meninos fortes. Principalmente os moreninhos, que são os mais fortes. Chegamos.


Eles param em frente à casa da VELHA.Ela pega a chave, e coloca na fechadura.


SEQ 4 –INT – CASA DA VELHA – DIA

GORDURA e VELHA entram na casa.


VELHA:
Pode entrar. Coloca o carrinho aqui na cozinha, que eu vou pegar ma coisinha.


A VELHA sai da cozinha, mas continua falando. Dá pra ouvir o que ela fala da cozinha. Enquanto ela fala, GORDURA fica admirando a casa.


VELHA:
Fica aí, que eu já volto. Eu gosto de meninos bonzinhos. Eu sempre deixo carregar meu carrinho. Eu adoro moreninhos, como você. Tem músculos fortes. Delicioso.


GORDURA fica olhando as coisas na cozinha. Até que seu olhar vai até uma porta panos, na parede. Ele pega o pano, e nota que é uma touca. Ele se assusta, e vai até a porta. Tenta abrir, mas está trancada. Ouve a VELHA atrás dele.


VELHA:
Não vai embora ainda, não!


GORDURA se vira, e se assusta com o que vê. A VELHA está com uma faca numa mão, e um garfo na outra. Ela bate um talher no outro, e lambe os lábios.


SEQ 5 – EXT – FEIRA-LIVRE – DIA

Um homem está colocando as compras no porta-malas do carro. Quando acaba, ele dá um trocado para ÉBANO. Ele vai até ZOINHO.


ZOINHO:
E aí, quanto ele deu?

ÉBANO:
Umas moedas. Homem é tudo pão-duro. Mulher dá mais dinheiro.

ZOINHO:
Pode crê.

OS meninos ficam um momento observando o movimento de pessoas. De repente, ZIONHO, num impulso, fala com se tivesse acabado de se lembrar de algo que havia esquecido.


ZOINHO:
Ei, e o Gordura? Você viu ele hoje?

OS meninos fazem gestos com os ombros e mãos de que não fazem idéia de onde ele está. Eles ficam ali, esperando pra carregar as compras de alguém.